Na década de 1990, cineastas de todo o mundo estavam preocupados com o rumo que o cinema estava tomando. Filmes com grandes orçamentos estavam dominando as telas, de Hollywood a Bollywood e em muitos outros lugares. Em resposta a isso, quatro cineastas dinamarqueses – Lars von Trier, Kristian Levring, Soren Kragh-Jacobsen e Thomas Vinterberg – criaram o Dogma 95. Foi um movimento radical que queria simplificar o cinema, removendo os efeitos especiais e técnicas complexas que estavam sendo muito usadas.
Por dentro da insanidade do Dogma 95
Analisaremos o Dogma 95 olhando o Manifesto do movimento e o Voto de Castidade, depois detalharemos os filmes mais importantes. Mas antes disso, vamos definir rapidamente o Dogma 95.
O que foi o DOGMA 95?
É um movimento cinematográfico dinamarquês popularizado por Lars von Trier e Thomas Vinterberg. O objetivo do Dogma 95 é trazer o cinema de volta às suas raízes mais simples; para evitar as armadilhas do cinema convencional, como efeitos especiais excessivos e enredos sensacionalistas. Isto é conseguido através da adesão a um conjunto estrito de regras conhecido como Voto de Castidade.
Regras:
- Dissociar o cineasta do filme.
- Para fazer um filme parecer mais orgânico e fiel à vida.
- Para livrar o cinema de convenções cansativas e sem alma.
O que é o voto de castidade?
Para atingir os propósitos do movimento, os fundadores do Dogma 95 criaram o Voto de Castidade – um conjunto de regras que norteou de forma importante as considerações práticas e criativas de seus filmes. Agora que definimos o Dogma 95 e os Votos de Castidade, vamos ver alguns exemplos de filmes!
Festen
O primeiro filme oficial do Dogma 95 produzido foi em 1998, três anos após a fundação do movimento. Festen é uma comédia dramática de humor negro de Thomas Vinterberg que trata de uma reunião de família que revela um poderoso e obscuro segredo de família. Festen é amplamente considerado um dos melhores filmes do movimento, mas, ao mesmo tempo, provou que os obstáculos impostos pelo Voto de Castidade eram incrivelmente difíceis de superar.
Aqui está o que Vinterberg tinha a dizer sobre o processo de uso das regras do Dogma 95 ao fazer Festen :
“Dogma 95 me deu a coragem de ser absolutamente consequente emocionalmente ao escrever isso. Achei que se não tivesse música, se não tivesse nada, teria que manter o público envolvido com a história a cada segundo.”
Os Idiotas
O filme acompanha um grupo de adultos que imitam deficientes como uma forma de “rebelião social”. The Idiots foi indicado à Palma de Ouro em Cannes, em 1998, embora tenha recebido críticas mistas logo após o lançamento.
Nos anos seguintes, von Trier admitiu que vários aspectos da produção de The Idiots não seguiram totalmente as regras do Dogma 95, como o uso de um ator substituto e a interferência nas fontes de luz. Após dois filmes, ficou claro que cumprir o Voto de Castidade de forma integral simplesmente não era viável.
Italiano para Iniciantes
Italiano para Iniciantes é um dos melhores filmes do movimento. Ele combina habilmente drama e comédia, ao mesmo tempo que faz um uso forte e consciente do Voto de Castidade.
O Manifesto Dogma 95 tem o objetivo de tornar a produção cinematográfica o mais simples possível. Com isso, busca revelar a natureza mais pura e verdadeira de uma história. Italiano para Iniciantes concretiza essa proposta ao focar totalmente nos personagens, fazendo deles o centro e a essência do filme.
O legado do Dogma 95
O Dogma 95 provou ser libertador para algumas diretoras, como Susanne Bier (Open Hearts) e Natasha Arthy (Old, New, Borrowed and Blue). No entanto, essas obras foram, em grande parte, ofuscadas pelo “poder de estrela” de von Trier e Vinterberg, mesmo com uma das máximas do movimento sendo “O diretor não deve ser creditado”.
Além disso, o Dogma 95 influenciou fortemente a cultura dinamarquesa, já que a ideia de trazer o cinema de volta à sua origem inspirou outros artistas a seguir o mesmo caminho com seus próprios projetos.
Embora os movimentos cinematográficos sejam definidos pela subjetividade de suas qualidades, este movimento foi surpreendentemente objetivo. Por outro lado, as regras do Dogma 95 se mostraram tanto uma bênção quanto uma maldição. O movimento atingiu seu objetivo de resgatar as raízes do cinema, mas isso ocorreu às custas do consumidor e, muitas vezes, do interesse criativo.
Até os próprios fundadores tiveram dificuldade em seguir o Voto de Castidade, o que acabou levando ao fim do movimento. Ainda assim, não dá para ignorar o impacto que um dos movimentos mais estranhos e radicais da história do cinema deixou.
Curtiu? Para continuar acompanhando outros conteúdos como este, me siga nas redes sociais: estou no Facebook, Instagram,e YouTube!