Você pode não ter ouvido falar do Efeito Kuleshov antes, mas pode estar ciente da teoria do filme. O Efeito Kuleshov é baseado na teoria e nas experiências de Lev Kuleshov, um cineasta russo do início do século XX. Kuleshov teorizou que um público poderia ser manipulado para ver emoções no rosto de um artista, mostrando o que ele está olhando. Hoje vamos ver a teoria por trás da amada foto do ponto de vista e como você pode usar essa técnica centenária em seus projetos.
O que é o Efeito Kuleshov?
O Efeito Kuleshov consiste em uma montagem de imagens mostrando um rosto inexpressivo intercaladas com imagens que têm significado para o espectador. Essa técnica consiste em criar uma associação de ideias entre duas imagens que são mostradas em sequência, mesmo que elas não tenham nenhuma relação direta entre si. O resultado é que o espectador atribui um significado emocional à cena, que pode não estar presente no material original.
Como foi o Experimento?
Kuleshov realizou seu experimento mais famoso editando três sequências diferentes com o rosto do ator Ivan Mosjoukine em close-up. Na primeira, o rosto de Mosjoukine aparece seguido por uma tigela de sopa. Na segunda, ele é seguido por uma imagem de uma mulher morta. Já na terceira, o rosto é seguido por uma criança brincando.
Embora o rosto fosse o mesmo, o público interpretou as expressões de maneiras distintas em cada sequência. Quando a tigela de sopa apareceu, os espectadores associaram a expressão à fome. Já com a mulher morta, entenderam tristeza ou preocupação. Por fim, ao ver a criança brincando, perceberam felicidade no rosto do ator.
O efeito Kuleshov mostra a importância da edição no cinema, pois as imagens juntas podem transformar completamente a percepção do público. Além disso, a técnica revela como a mente humana associa ideias e emoções de forma rápida e intuitiva.
Em suma, o efeito Kuleshov é uma ferramenta poderosa para editores. Ao combinar imagens em sequência, o cineasta manipula a percepção do espectador e conta histórias de modo mais envolvente e emocionante.
Entendendo os pensamentos do seu personagem
Quando usamos uma tomada de ponto de vista, colocamos o espectador atrás dos olhos do personagem. Assim, essa tomada deve transmitir os processos internos dele. Isso não é tão complicado quanto parece. Ao criar o storyboard, entre no pensamento do personagem. Embora o que ele vê não seja a parte mais importante da cena, isso ajuda o público a entender seu estado mental naquele momento.
A posição da câmera também transmite muito para o público, às vezes sem querer. Por exemplo, para mostrar um personagem poderoso, posicione a câmera mais baixa, olhando ligeiramente para cima. Por outro lado, para criar desconforto ou suspense, aproxime a câmera, focando nos olhos e na respiração do ator. Para compreender melhor o efeito Kuleshov em um filme, observe como as tomadas se relacionam: de quem é o ponto de vista? O que a imagem revela sobre o estado emocional? A câmera pode passar muita informação, mesmo de forma sutil.
Quem foi Lev Kuleshov?
Lev Kuleshov (1899-1970) foi um teórico do cinema soviético e diretor que defendeu a montagem — o corte, a edição e a justaposição das imagens — como o aspecto mais importante do cinema.
Em 1910, após a morte do pai, Kuleshov e a mãe mudaram-se para Moscou. Quatro anos depois, ele começou a estudar pintura. No ano seguinte, passou a desenhar cenários para o Khanzhonkov Film Studio em Moscou. Em 1917, dirigiu seu primeiro filme, Proyekt inzhinera Prayta (O Projeto do Engenheiro Prite), onde experimentou montagem e usou close-ups de forma eficaz. Nos dez anos seguintes, aperfeiçoou seu estilo em filmes como Na krasnom fronte (1920), o primeiro filme soviético a combinar documentário com sequências de atuação, e Po zakonu (1926), baseado em uma história de Jack London sobre três pessoas presas na neve durante um inverno inteiro.
Kuleshov também fundou o Kuleshov Workshop, em 1920, para treinar atores e diretores. Em 1935, a censura oficial o impediu de produzir novos filmes, por ele priorizar a técnica em vez do conteúdo social. Entre suas principais obras teóricas estão Art of the Cinema (1929), Practice of Film Direction (1935) e Fundamentals of Film Direction (1941).